TOD, Autismo e TDAH : 5 formas de reconhecer os transtornos
Chegamos em 2020! Junto com o ano novo, embarcamos também na campanha janeiro branco, dedicada a ampliar o diálogo sobre educação emocional e saúde mental. No artigo de hoje falaremos sobre 3 transtornos da mente que causam alterações de ordem intelectual, social e emocional: o TOD (transtorno opositivo desafiador), o Autismo (transtorno do espectro autista) e o TDAH (transtorno de déficit de atenção com hiperatividade).
Embora sejam transtornos diferentes em vários aspectos, as 3 patologias possuem alguns sintomas em comum. Por isso vamos confrontar suas semelhanças e trazer algumas informações que podem ser úteis na hora de reconhecer e diferenciar as condições.
Para começar, vamos trazer as definições de cada uma delas. Acompanhe conosco:
1 – Conheça os transtornos: TOD, Autismo e TDAH
TOD – Transtorno Opositivo Desafiador: O TOD é um tipo de transtorno de conduta identificado por um comportamento provocador, desobediente ou perturbador, e não acompanhado de comportamentos delituosos ou de condutas agressivas ou dissociais graves. ¹
Autismo – Transtorno do espectro autista: O Autismo é uma condição que causa prejuízos no desenvolvimento neurológico e no padrão de comportamento, que impactam principalmente na interação social e nas habilidades de comunicação. Essas alterações também podem gerar padrões repetitivos e interesses restritos pronunciados. ²
TDAH – O Transtorno do Déficit de Atenção com Hiperatividade (TDAH): É um transtorno neurobiológico, de causas genéticas, que aparece na infância e frequentemente acompanha o indivíduo por toda a sua vida. Ele se caracteriza por sintomas de desatenção, inquietude e impulsividade. ³
2 – Descubra o que os distúrbios têm em comum
- Os três distúrbios geralmente apresentam os primeiros sintomas ainda na infância;
- Tanto o TOD quanto o Autismo e o TDAH podem causar comportamentos inadequados em relação a si mesmos ou as outras pessoas com as quais essas crianças se relacionam;
- Os transtornos geralmente trazem algum tipo de agitação fora do padrão;
- É possível que as crianças diagnosticadas com qualquer um dos transtornos tenham dificuldades para se adaptar aos ambientes e fazer amizades;
- É comum que os comportamentos atípicos dessas crianças sejam confundidos com falta de educação;
- No caso do Autismo e TDAH é comum que haja dificuldade para se concentrar em uma tarefa.
3 – Avalie as comorbidades entre TOD, o Autismo e o TDAH
Comorbidade é como a medicina define o aparecimento de duas ou mais condições de saúde ao mesmo tempo. Entre esses três distúrbios, por exemplo, é muito comum que TOD e o TDAH apareçam juntos, ou seja, não é raro que uma mesma pessoa conviva com os dois distúrbios. Estima-se que isso aconteça em pelo menos 50% dos casos.
As crianças que possuem esta comorbidade, apresentam problemas comportamentais persistentes em sala de aula, e como consequência disso acabam indo mal na escola, o que também favorece o desenvolvimento de comportamentos antissociais ainda mais extremos. 4
As dificuldades encontradas para avaliar as comorbidades
No caso do autismo, é importante prestar atenção no fato de que o espectro é bastante amplo, por exemplo, os autistas considerados severos são aqueles que não falam e que precisam de apoio para realizar as atividades mais básicas do dia-a-dia como se vestir, se alimentar e fazer a higiene pessoal. As pessoas com esse grau de comprometimento frequentemente apresentam também algum nível de deficiência intelectual, entre 60 e 70% dos casos. 2,4
No outro extremo do espectro estão os autistas de alto funcionamento, anteriormente chamados de Asperges, esses autistas não têm deficiências mentais, e alguns deles inclusive possuem inteligência acima da média (cerca de 10%), podendo se destacar em suas áreas de interesse.
Entre estes dois extremos estão os autistas moderados, que necessitam de alguma assistência para funcionar na sociedade, mas não tem prejuízos intelectuais tão graves. 2,4
Mas porque entramos nessa questão? Acontece que, quando há um quadro de deficiência intelectual (como em alguns autistas severos) o diagnóstico de outras condições associadas se torna mais difícil.
O diagnóstico de TOD, por exemplo somente será possível em pessoas com deficiência intelectual, quando o comportamento opositor for maior do que o observado em crianças da mesma idade, gênero e grau de deficiência intelectual. ¹
Por outro lado, no caso dos autistas de grau leve, fica mais fácil identificar os sintomas de outras patologias. Inclusive, como autismo e o TDAH compartilham genes, 70% dos autistas leves também costumam ter o transtorno de déficit de atenção e hiperatividade (TDAH).
4 – Aprenda a identificar o Autismo e o TDAH
Embora seja relativamente comum que pessoas com autismo leve tenha TDAH nem todos os autistas tem TDAH. E principalmente, a maioria dos TDAHS não têm autismo.
As diferenças são muito sutis e o médico precisa estar muito atento para que consiga perceber nuances, principalmente nos casos mais “graves” de TDAH e mais “leves” de autismo.
Esse menino não para quieto, esse menino não dá sossego, esse menino tem TDAH. Será? Ou esse menino é um autista que tem transtorno sensorial e fica muito agitado em função disso? Também pode ser o caso de um autista que foi retirado da rotina, e por isso entrou em crise, e apresentou sintomas similares àqueles da hiperatividade. 5
Principais diferenças entre o autismo e o TDAH 5
Vamos conhecer algumas das principais diferenças entre essas condições:
Foco e organização
- O autista se apega a rituais para estabelecer uma organização que tem dificuldade de preservar.
- O TDAH é mais impulsivo, energético, não para.
- O autista consegue manter o hiperfoco, se concentrar, não presta atenção mais em nada, mas quando o assunto é o hiperfoco, ele tem um bom nível de concentração.
- O TDAH tem dificuldade de concentração, qualquer que seja o assunto.
Regras
Tanto o autista quanto o TDAH parece que não seguem regras e ousam para além delas, mas, por motivos diferentes:
- O autista desconhece a regra, então as infringe sem saber que está infringindo. Quando ele conhece a regra, fica mais fácil se controlar e não infringir mais a regra.
- No caso do TDAH, ele conhece a regra, mas é impulsivo. Não é por maldade, é uma característica neurológica da pessoa. Ele quer descobrir, que mexer.
Socialização
Outra questão que é que ambos são vistos como pessoas diferentes em termos sociais, com dificuldade de fazer amigos, e isso mais uma vez acontece por motivos diferentes.
- O autista é visto como esquisito, desajeitado, que não gosta de companhia;
- O TDAH é visto como mais impulsivo, irritante, perturbador.
Inquietação
O TDAH frequentemente é julgado como aquele menino que “não tem limites”. São aqueles casos em que a mãe não consegue que essas crianças parem quietas.
- O autista, ao entrar em crise, externa um conflito, qualquer que seja a inadequação que está acontecendo com ele.
- O TDAH, normalmente, expressa contrariedade quando não está gostando. Ele expressa isso muito mais do que o autista leve, com expressões faciais mais evidentes.
Atenção ao mundo exterior
Quando chama o autista, ele parece que não ouve e a mesma coisa ocorre com o TDAH, mas, mais uma vez, por motivos diferentes:
- O autista geralmente está centrado naquilo que está chamando a atenção dele por muito tempo, diferentemente do TDAH.
- O TDAH não ouve porque ele está olhando tudo, está prestando atenção em tudo, o que, aliás, é outra característica.
A pessoa com TDAH começa a fazer uma coisa e logo se desconcentra e começa a fazer outra, e os fatores externos influenciam muito nessa pessoa. Essa questão de começo, meio e fim traz muitas diferenças, muitas dúvidas, é por isso que o diagnóstico é fantástico, você vai se descobrindo.
5 – Conheça as diferenças entre “birra” e TOD 6
É natural que as crianças demonstrem comportamentos de oposição de vez em quando, afinal, a infância traz consigo todo um universo de descobertas. A criança está conhecendo a si mesma, entrando em contato com suas emoções ao mesmo tempo em que descobre o mundo a sua volta. Esse é o momento em que ela se depara com as regras e os limites da convivência social.
Justamente por isso, muitas vezes é difícil distinguir o que é um desafio natural da educação do que possa ser um transtorno. Nesse caso, é preciso perceber a gravidade dos comportamentos inadequados e a permanência dos sintomas.
Um dos grandes marcadores do distúrbio é que o comportamento da criança destoa muito do comportamento observado em outras crianças da mesma idade e nível de desenvolvimento.
Por exemplo, comportamentos de “birra” geralmente surgem quando a criança tem entre 3 e 4 anos, pois ainda não sabe lidar muito bem com suas frustrações. Ela geralmente está com fome, cansada, estressada ou chateada e não tem maturidade ainda para lidar com estas questões. Mas a medida em que a criança cresce, estes sintomas tendem a diminuir e desaparecer com o tempo, o que não acontece nas crianças que apresentam o transtorno opositivo desafiador.
Sintomas do Transtorno Opositivo Desafiador
Alguns sinais de alerta incluem:
- Teimosia exagerada;
- Resistência a cumprir com as regras e combinados;
- A criança incomoda e perturba as pessoas de propósito, sem que haja uma necessidade não atendida muito clara que motive o comportamento.
Diagnóstico do TOD
A intervenção e tratamento precoce do TOD são fundamentais para melhorar o comportamento e a qualidade de vida da criança com este transtorno, além de prevenir que evolua para um Transtorno de Conduta.
Para o diagnóstico de TOD, pelo menos quatro das características abaixo deverão estar presentes:
- Perde a paciência com frequência;
- Constantemente discute com adultos;
- Sempre desafia ou se recusa ativamente a obedecer às solicitações ou regras dos adultos;
- Perturba as pessoas de forma proposital;
- Costuma responsabilizar os outros por seus erros ou mau comportamento;
- É comum que se aborreça sem motivos;
- Frequentemente mostra-se enraivecido e ressentido;
- É rancoroso ou vingativo em várias situações.
A Importância do tratamento
Quando o TOD não é tratado, pode evoluir para transtornos mais graves, como o transtorno de conduta e o transtorno de personalidade antissocial (sociopatia). 4
Por isso é muito importante investigar os sintomas, buscar ajuda médica e iniciar o tratamento o quanto antes. O tratamento pode incluir a psicoterapia numa abordagem comportamental, que busca melhorar as habilidades de resolução de problemas, de comunicação e controle de impulso, e a psicoterapia familiar, que promove mudanças dentro do ambiente doméstico, e visa melhorar também as habilidades de comunicação e as interações familiares. O médico poderá prescrever alguma medicação, especialmente com o intuito de regular as emoções e também no caso perceber outros transtornos associados. 6
Nem todo comportamento difícil é um distúrbio mental
Embora sempre seja muito importante investigar um quadro onde os pais possam desconfiar de um possível transtorno, vale ressaltar que nem todo comportamento inadequado que se opõe as regras e desafia os adultos é sinal de algum distúrbio.
Algumas vezes, os pais necessitam de ajuda para estabelecer limites. Embora representem uma figura de autoridade para os filhos, isso não significa que eles deverão desempenhar somente funções de punição.
Por isso, é importante regras firmes e claras, mas flexíveis o bastante para permitir experimentação e escolha, promovendo um ambiente onde a criança sinta-se respeitada e acolhida. É muito importante ouvir as necessidades da criança. Isso trará a liberdade na medida certa para um processo de crescimento saudável e de construção de sua individualidade. 4
Para aqueles que convivem com crianças com comportamentos inadequados que não estão sob sua tutela, a mensagem é: empatia. Antes de julgar qualquer pessoa, pense que pode existir algo que não seja só falta de limites ou de educação. Ofereça escuta aos pais, pois se você se incomoda em pouco tempo de convivência, pode imaginar o quanto lidar com uma criança assim pode ser desgastante e frustrante. Apoie, acalme e se sentir a vontade compartilhe esse conteúdo!
Para ajudar nesse exercício, indicamos uma visita ao Autismo em Dia, que traz muitas discussões sobre o tema e muitas histórias reais de autistas, pais, mães, irmãos e cuidadores!
Colaborou neste artigo:
Dr. Michel Haddad
CRM-SP 145096 / Especialidade: Psiquiatria
Referências Bibliográficas e datas de acesso
1 – Casule – acesso em 13/12/2019
2 – Entendendo o Autismo acesso em 18/09/2019
3 – Associação Brasileira do Déficit de Atenção – acesso em 13/12/2019
4 – Comporte-se – acesso em 13/12/2019
5 – Mundo Asperger – acesso em 13/12/2019
6 – Instituto Neurosaber acesso em 13/10/2019