Dia Mundial do Autismo: 4 coisas que a data tem para ensinar!
No dia 2 de abril, o mundo inteiro se une para celebrar o Dia Mundial de Conscientização do Autismo. Essa é uma oportunidade crucial para aumentar a conscientização sobre o autismo e promover a inclusão de pessoas com espectro autista na sociedade.
A data foi estabelecida em 2007 para ampliar o conscientização da nossa sociedade sobre o transtorno. O propósito da campanha é discutir o tema de forma aberta e transparente, reduzindo a discriminação e o preconceito que ainda envolve as pessoas e as famílias que convivem com o TEA. ¹
O Dia Mundial da Conscientização do Autismo foi estabelecido pela Assembleia Geral das Nações Unidas, com o objetivo de aumentar a conscientização sobre o autismo e promover a inclusão de pessoas no espectro autista. Desde então, a data é celebrada todos os anos em 2 de abril, com eventos e campanhas realizados em todo o mundo.
A escolha do dia 2 de abril não foi aleatória. Essa data marca o nascimento do artista e cientista Albert Einstein, que é frequentemente citado como um exemplo de uma pessoa que possivelmente estava no espectro autista. Ao associar o Dia Mundial da Conscientização do Autismo a uma figura tão icônica, busca-se aumentar a visibilidade e o reconhecimento das pessoas no espectro autista.
Esse ano, 2024, o tema da campanha é: Valorize as capacidades e respeite os limites!
Conheça a seguir 4 lições que o 2 de abril tem para nos ensinar:
1 – O dia mundial do autismo é sobre conscientização e diversidade
O dia mundial do autismo é uma oportunidade para despertar nossa sociedade para conhecer e entender o transtorno. Muito embora o tema deva ser discutido sempre que possível, ter um dia mundial dedicado à conscientização, nos permite criar iniciativas que chamem atenção das pessoas de um modo especial. Afinal, quando todo mundo está falando sobre algo ao mesmo tempo, a mensagem naturalmente fica mais forte.
Primeiramente, é importante lembrar que todos os esforços sobre a conscientização do autismo passam pelo esclarecimento do termo TEA. Por isso, vamos começar fazendo exatamente o mesmo: TEA é a abreviação para Transtorno do Espectro Autista. Essa expressão surgiu para “resumir” toda a variedade de sintomas e níveis de comprometimento da pessoa com autismo.
O TEA é um transtorno do neurodesenvolvimento, ou seja, uma condição que causa diferentes alterações no desenvolvimento padrão e consequentemente nas funções adaptativas e padrão comportamental. Essas alterações impactam principalmente as áreas da interação social e as habilidades de comunicação, padrões de interesses e comportamentos restritos, repetitivos e estereotipados.
A noção de espectro facilita compreendermos o autismo, já que os prejuízos se manifestam em maior ou menor grau de gravidade. Isso significa que toda pessoa (criança ou adulto) com as características do autismo, está dentro do TEA.
Os pesquisadores e profissionais da saúde se baseiam na última edição do Manual Diagnóstico e Estatístico de Transtornos Mentais, também conhecido como DSM-5, para identificar os sintomas de autismo, fechar o diagnóstico e identificar o nível de gravidade da condição.
Por isso, às vésperas do dia mundial do autismo, a primeira grande lição sobre esse tema é a diversidade do autismo. Cada autista é único, tanto em suas limitações quanto em suas potencialidades.
Conteúdo atualizado em – 20/03/2024
Severidade e graus de autismo
Existem 3 principais graus de autismo: leve, moderado e severo. A gravidade do transtorno é definida de acordo com o nível de suporte que o autista precisa para conviver em sociedade. É o que os especialistas chamam de “nível de funcionamento”. Esse nível depende da gravidade dos sintomas, disfunções e deficiências na comunicação e nas habilidades comportamentais e sociais.
É importante avaliar e compreender os graus de comprometimento que a pessoa pode ter em sua independência e autonomia, bem como, qual é a dificuldade que ela eventualmente pode encontrar para estabelecer e cultivar suas relações interpessoais.
Alguns autistas, por exemplo, levam uma vida aparentemente normal: falam, estudam em escola regular, formam-se na universidade, trabalham, estabelecem relacionamentos conjugais e também de amizade. Todas essas conquistas demonstram que essas pessoas estão do lado mais leve do espectro.
Outros, autistas, por outro lado, com grau moderado ou severo do transtorno, vão precisar de ajuda para fazer tarefas básicas do dia-a-dia como por exemplo tomar banho, escovar os dentes, comer e etc.
Compreender como os especialistas avaliam um indivíduo tanto para diagnosticar o autismo, quanto para atribuir-lhe um nível de função, nos ajuda a planejar o tratamento e reduzir os prejuízos do distúrbio, além de contribuir com o ajuste de expectativas em relação a como será o futuro dessas pessoas.
Para entender mais sobre os graus de autismo recomendamos um artigo do site Autismo em Dia, para acessar clique aqui
2 – O dia mundial do autismo contribui para o diagnóstico precoce
Quando entendemos um transtorno, quais são os sintomas e a forma como ele altera os padrões esperados para o desenvolvimento de um indivíduo, fica muito mais fácil identificá-lo, certo? Por essa razão simples, o dia mundial do autismo também contribui para que as pessoas tenham acesso ao diagnóstico mais cedo do que teriam se o tema não fosse tão amplamente discutido.
A conscientização sobre o autismo é fundamental para promover a inclusão e a igualdade de oportunidades para pessoas no espectro autista. Muitas vezes, pessoas com autismo enfrentam estigmas e preconceitos que limitam suas oportunidades de educação, emprego e participação social.
Segundo o DSM-5, para ser diagnosticado com TEA, o indivíduo deve ter apresentado sintomas a partir da primeira infância, e apresentar prejuízos funcionais em diferentes domínios do desenvolvimento. As dificuldades incluem:
1 – Déficits na comunicação e interações sociais, incluindo:
- Uso prejudicado da linguagem;
- Falta de contato visual e engajamento com outras pessoas;
- Comprometimento no uso e compreensão da linguagem corporal e das expressões faciais;
- Resposta incomum à demonstração de emoções ou afeto;
- Falta de empatia, interesse e conexão com outras pessoas e manutenção de relacionamentos.
2 – Interesses restritos e comportamentos repetitivos, incluindo:
- Engajamento em comportamentos repetitivos, como por exemplo balançar o corpo e bater as mãos;
- Repetição de palavras, frases ou alterações na entonação da fala;
- Organizar ou enfileirar brinquedos e outros objetos;
- Interesses incomuns em rotinas fixas ou áreas específicas de interesse;
- Desconforto acentuado com uma mudança nas rotinas;
- Reação incomum a estímulos visuais, auditivo, tátil, gustativo como por exemplo, sons, cheiros, texturas e temperatura.
Se você reconheceu alguns dos sintomas citados acima, seja em você mesmo ou em alguém que você conhece, procure orientação médica. Embora esses sinais possam variar em maior ou menor gravidade, o dia mundial do autismo também existe para nos lembrar que o diagnóstico é o primeiro passo para que as pessoas dentro do espectro possam evoluir e ter mais qualidade de vida!
3 – O dia mundial do autismo dá visibilidade para os autistas e seus familiares
O TEA é frequentemente abordado em diversos tipos de obras de arte, cultura e entretenimento: livros sobre autismo, filmes e séries são bastante comuns. Entretanto, parte desse material ainda representa os autistas segundo os estereótipos clássicos: o gênio esquisitão, o super talentoso desajustado ou a criança que se balança no canto da sala.
A internet tem nos possibilitado conhecer histórias reais, e o dia mundial do autismo ajuda muito na divulgação desse tipo de conteúdo. Aos poucos vamos desmistificando os tabus sobre o tema e dando visibilidade real às pessoas que convivem com o transtorno. Para contribuir nesse sentido, vamos listar alguns perfis para acompanhar nas redes sociais, e alguns artigos que contam histórias verdadeiras sobre os autistas e seu dia-a-dia:
Introvertendo
É o primeiro podcast do Brasil e um dos primeiros do mundo formado apenas por autistas. Para quem não está familiarizado com esse tipo de conteúdo, o podcast é uma conversa gravada em áudio, muito semelhante a um rádio. A diferença é que fica disponível para que o internauta escute quando quiser, pois não é um programa ao vivo.
Ele é feito por episódios e os autistas participantes falam de diferentes temas do seu dia e sua condição. Para conhecer mais acesse: Introvertendo
Lagarta Vira Pupa
Um blog gerenciado por Andréa Werner, jornalista, palestrante e mãe do Theo, que é autista. No blog, nas redes sociais e no Youtube, Andréia fala sobre a maternidade atípica, autismo e amor, enquanto aborda várias questões relacionadas ao transtorno: as terapias, os desafios e a luta por mais inclusão social. Conheça mais sobre eles: Lagarta Vira Pupa
Autismo em Dia
O Autismo em Dia é um site que conversa com todos os públicos interessados em autismo: autistas, famílias, médicos e profissionais de apoio. Lá é possível encontrar informações, dicas, conteúdos e muito mais sobre o universo TEA. O site inovou com a sessão proTEAgonistas, onde você pode conhecer a história da Juju e de sua mãe Daniela Olivette Moraes. Outra história para conhecer é do autista não verbal Nátan e sua família de Curitiba. Acesse: Autismo em Dia
4 – O dia mundial do autismo divulga os direitos da pessoa com TEA
O dia mundial do autismo é também uma maneira de contribuir para a divulgação e a garantia os direitos da pessoa com TEA. Além disso, essa data também tem como objetivo sensibilizar a sociedade quanto ao espaço dos autistas nas escolas, nos grupos sociais, e para aqueles de grau leve, para a inclusão nas universidades e no mercado de trabalho.
Perante a lei, as pessoas com autismo têm os mesmos direitos de qualquer outro cidadão. Mais do que isso, as pessoas dentro do espectro do autismo têm todos os direitos previstos em leis específicas para pessoas com deficiência. ³
Direito ao tratamento pelo SUS
A Lei 12.764/2012 estabelece a Política Nacional de Proteção dos Direitos das Pessoas com Autismo, ela afirma que todas as pessoas que convivem com o TEA têm direito a tratamentos, através do SUS, que sejam necessários para o seu desenvolvimento geral.
Direitos da criança e dos idosos com autismo
Enquanto são crianças e adolescentes, os autistas também possuem todos os direitos previstos no Estatuto da Criança e do Adolescente (Lei no 8.069/90), como direito à escola e a educação regular, por exemplo. A Lei 13.146/2015 assegura que alunos com autismo, ou outro transtorno que exija tratamento especial, tenham acesso à escola. A instituição também deve promover adaptações que favoreçam o desenvolvimento da criança na escola.
Já quando idosos, ou seja, após os 60 anos, os autistas adquirem todos os direitos estabelecidos pelo Estatuto do Idoso (Lei no 10.741/2003). ³
Direitos dos autistas de baixa renda
Famílias carentes podem ser beneficiadas por meio do BPC – Benefício de Prestação Continuada, que também é conhecido como LOAS, este é um benefício pago pelo INSS no valor de um salário mínimo. O benefício está previsto para custear as necessidades básicas, como alimentação, moradia e remédios.
Para ter direito ao BPC /LOAS, também é necessário cumprir os seguintes requisitos:
- Não conseguir prover o próprio sustento;
- Pertencer ao grupo familiar de baixa renda, quando a soma da receita das pessoas que moram na mesma casa é inferior a ¼ do salário mínimo (pode haver exceções).
Outros direitos garantidos pela nossa legislação são o tratamento sem limites de sessões pelos planos de saúde (fisioterapia, fonoaudiologia e psicoterapia) e o custeio de medicamentos de alto custo. A legislação dos estados e municípios falam sobre o acesso ao transporte público gratuito, descontos nas contas de luz, mediante comprovação de baixa renda, e a redução na carga horária para funcionários públicos. 4
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Ajude a fortalecer essa causa, pois agora você já sabe que o dia mundial do autismo é uma importante ferramenta para garantir que os autistas e seus cuidadores tenham mais visibilidade e qualidade de vida!
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Referências bibliográficas e datas de acesso
1 – Ministério da Saúde – 27/02/2020
2 – Neurosaber – 28/02/2020
3 – Jornal Contábil – 28/02/2020
4 – Estadão – 28/02/2020
Colaborou com esse artigo:
Dra. Fabrícia Signorelli Galeti
Psiquiatra – CRM 113405-SP