Atividades para crianças autistas: dicas para melhorar o desenvolvimento
Cuidar de uma criança autista exige muita energia. São vários os tratamentos e terapias, e como em qualquer família, é preciso dedicar um tempo de qualidade em casa, para lazer, educação e brincadeiras. Que tal uma série de dicas de atividades para crianças autistas? É o que preparamos hoje para você.
Nossas sugestões abaixo vão de brincadeiras até atividades que ajudam no desenvolvimento da criança com transtorno do espectro autista. São formas de você acompanhar de perto o autoconhecimento do seu filho ou filha e prepará-lo(a) para diversas situações.
Neste ano, muitas famílias foram forçadas a enfrentar o distanciamento social e o isolamento em casa, seguida da impossibilidade de comparecer aos locais de apoio aos autistas, como clínicas e escolas. Claro que nesse momento é muito importante encontrar novas formas de entreter a criança, mas as nossas dicas servirão para você em qualquer época do ano.
Então venha conhecer as melhores dicas dos profissionais de atividades para crianças autistas.
Brincando com a criança autista
O maior desafio de brincar com uma criança autista é conquistar a atenção dela. Por isso, é preciso prestar atenção à forma da brincadeira e que tipo de materiais ela envolve.
Para saber se a brincadeira escolhida por você é uma das atividades recomendadas para crianças autistas, verifique se ela inclui as seguintes características:
- Proporciona movimentação do corpo, que pode ajudar na regulação sensorial.
- Incentiva o contato visual, algo que as crianças autistas costumam evitar.
- Possui interação direta com outra pessoa, para auxiliar no vínculo entre a criança e o adulto.
- Estimula a imitação oral e gestual.
- Faz a criança mover os músculos do rosto.
- Faz a criança ter contato físico e consciência corporal.
- Trabalha o ensino e controle das emoções.
- Estimula as descobertas das possibilidades dos sentidos, como olfato, paladar, tato, visão e audição.
Brincadeiras recomendadas
Compreendidas as recomendações acima, a hora de brincar pode ser uma excelente oportunidade de descobrir os interesses da criança autista. É muito importante ressaltar que não adianta forçar os pequenos autistas em algo em que eles não se sentem bem, pois as sensibilidades e dificuldades de cada um se apresentam de formas diferentes.
As brincadeiras e os benefícios
Brincadeiras para mexer o corpo são bem simples, e você já pode fazer desde quando a criança ainda é de colo. Sabe, por exemplo, a famosa brincadeira do “serra, serra, serrador”? Parece algo simplório, mas causa contato visual e ainda ajuda a fazer a regulação sensorial.
Até fazer cócegas se apresenta como algo estimulante. Se você fizer disso uma coisa divertida (lembre-se de parar se a criança se sentir mal), a criança vai pedir para que você faça mais e mais vezes. Nessa singela interação, a criança se move, conhece as partes sensíveis do corpo e ainda utiliza a forma verbal de comunicação. ¹
Músicas também podem ser de grande auxílio, seja para cantar junto ou para ensinar o pequeno a fazer uma tarefa do dia a dia, como escovar os dentes, lavar as mãos, tomar banho, se alimentar, entre outros. Aproveite deste recurso para exercitar não apenas a criatividade da criança como também a sua. Façam o próprio show compondo canções e poemas que falem sobre as coisas daquela criança. ²
Dicas para ficar de olho
Essas são apenas algumas formas de brincar com a criança. Certamente são brincadeiras que agradariam até mesmo crianças neurotípicas, mas pequenas mudanças na forma de explorar os temas podem fazer uma diferença enorme para uma criança com TEA.
Por isso, temos duas dicas para você, que é o responsável por esta criança:
A primeira é, independente da brincadeira, ensinar às crianças o que elas podem ou não fazer. Diferencie uma brincadeira agradável de uma que possa ser constrangedora – principalmente quando envolver outras pessoas. Pode ser um pouco difícil ensinar para crianças autistas identificarem quais são os limites entre o que é adequado ou não, pois estamos falando de regras sociais um pouco abstratas, de todo modo, conduza a brincadeira de uma forma que consiga encaixar narrativas que dialoguem com o universo da criança.
A segunda dica é aplicar um novo olhar sobre a forma como a brincadeira normalmente acontece. Explore elementos afetivos, faça caras e bocas, utilize tons de voz diferentes e faça a criança prestar atenção em você! ³
A terapia Lego 4
Sendo um dos brinquedos que mais resistiram ao tempo e se adaptaram às mudanças de interesse das crianças, os famosos blocos de montar estimulam uma quase infinita gama de possibilidades.
No começo dos anos 2000, o neuropsicólogo Dan Legoff iniciou, de forma ainda discreta, em seu consultório, uma pesquisa que envolvia crianças autistas brincando com peças de Lego, que já era um tipo de objeto usual de sua sala de espera.
Ele estava insatisfeito com os resultados que vinha tendo utilizando métodos padronizados. Ele percebeu que as crianças autistas e as que tinham ansiedade e outras dificuldades sociais quase sempre iam brincar com o Lego. Segundo Legoff, “parecia ser uma zona livre de ansiedade”.
Depois que duas crianças, montando as peças, interagiram no seu consultório, Legoff passou a aplicar o Lego como terapia, com a condição de que as crianças fizessem a atividade juntas e não sozinhas. “É uma forma de elas desenvolverem uma atividade sistemática dentro de um contexto social“, declara o neuropsiólogo, que diz que esse é o grande truque.
Legoff publicou os robustos resultados do estudo num artigo científico e foi elogiado por muitos pais e professores. “O bom do Lego”, conta Michael Pitt, pai de um menino autista que se beneficiou deste método, “é que não tem palavras. Todas as instruções são visuais“. Além disso, é um tipo de desafio que leva tempo, demanda concentração e dá à criança um incrível senso de realização, quando termina de montar algo.
A atividade deu tão certo que passou a ser adotada como método terapêutico em escolas para crianças autistas nos Estados Unidos. E certamente é algo que você pode oferecer à criança na sua casa e passar horas muito divertidas.
Atividades sensoriais para crianças autistas
Muitos autistas possuem dificuldade de atenção, déficits de comunicação e uma alta sensibilidade a muitas coisas que existem ao nosso redor. Por isso, atividades de artesanato podem ser muito úteis e funcionais, estimulando um contato saudável com diversos materiais e permitindo que a criança encontre sua própria forma de expressão.
É importante lembrar que nem todas as brincadeiras vão ser adequadas a todos o autistas, já que alguns poderão ter um grau de comprometimento cognitivo importante. De todo modo, algumas delas poderão ser aplicadas com mais participação do adulto e adaptadas para as necessidades de cada um. O envolvimento da criança pode ser maior ou menor, dependendo do seu nível de funcionamento. Para entender mais sobre os níveis de autismo clique aqui.
Com isso em mente, veja algumas dicas abaixo: 5
Atividades artísticas:
- Garrafa Sensorial – A ideia é simples: encher uma garrafa pet com materiais coloridos como areia, glitter, bolas de gude, confete e tudo mais que você tiver em casa. O resultado é único e fica muito bonito.
- Esfregando moedas – Junte as moedas espalhadas pela casa, pegue uma folha de papel e, com as moedas por baixo da folha, pinte por cima com giz de cera. Experimente desenhar cada moeda de uma cor e deixar o papel todo colorido e cheio de imagens curiosas das moedas.
- Joias comestíveis – Use um fio de nylon, balas, jujubas, frutas e outros doces para criar colares e pulseiras comestíveis. Uma atividade doce e gostosa que ainda pode ajudar a melhoria da coordenação motora.
- Pintura com gelo – Essa atividade é ideal para dias quentes. Numa forma de gelo, despeje diferentes cores de tinta acrílica e acrescente um palito de madeira em cada uma. Depois de congelado, utilize cada cor como um pincel, e faça belas pinturas com as crianças decorrentes do derretimento das tintas.
Jogos educativos
- Jogo de cheiros – É importante ensinar às crianças autistas como os sentidos funcionam e como eles agem sobre o ambiente. Então, pegue coisas com diferentes aromas e faça um jogo de adivinhação com a criança.
- Jogo de palavras – Coloque uma série de palavras (mas não muitas de uma vez só) de um lado e suas respectivas imagens do outro. Peça à criança para relacionar cada palavra com uma imagem. Essa atividade é perfeita para aqueles com idade pré-escolar.
Atividades de aprendizado para crianças autistas 6
Não é só brincando que uma criança autista aprende. Algumas atividades vão precisar que os adultos se posicionem como quem vai ensinar algo importante. O que não quer dizer, necessariamente, que é preciso abrir mão das formas lúdicas.
“Como você se sentiria na seguinte situação?”
Quando for ler um livro para a criança, pergunte à criança como elas se sentiriam de acordo com uma situação parecida com a história. Se for a história da Cinderella, por exemplo, você pode perguntar como a criança se sentiria se tivesse duas irmãs que fossem más com ela. Na história da Branca de Neve, é possível descobrir como seu filho reagiria ao ser abordado por um estranho oferecendo algo.
Essa dica, que serve para pais e professores, tem vários ganhos: ensinar empatia, mostrar perspectivas diferentes e mostrar os diferentes sinais emocionais.
Tempo de compartilhar
Uma dica que pode funcionar muito bem em sala de aula é pedir para que o aluno autista leve para a turma algo que ele gostaria de compartilhar com os outros alunos. Assim, os alunos com autismo aprenderão a discutir seus interesses com outras pessoas. Você, como professor, ainda pode medir se o aluno autista se interessa por algo que os outros colegas mostraram e, quem sabe, pode até criar laços de amizade. Pai e mãe, estimule seu filho autista a compartilhar seus interesses.
Objetos sensoriais
Tenha por perto alguns brinquedos ou outros objetos que tenham efeito calmante no autista. Quando ele começar a ficar estressado por conta de alguma atividade que ele precise fazer, mostre que essa criança pode parar um pouco e conter as sensações desagradáveis.
Aplique metas inteligentes
Se perceber que a criança está tendo dificuldade para aprender algo, a dica é utilizar um método que a criança compreenda (podem ser imagens, sons, músicas, etc.) e estipular uma meta e conceder uma quantidade de tempo adequada para concluí-la. A ideia é que a própria criança fique estimulada a progredir nesse período.
Por exemplo, se estiver demorando a aprender o alfabeto, utilize o método escolhido para que a criança estude uma letra por dia e, no final de um mês, ela deverá ter aprendido o alfabeto todo.
Como complemento ao nosso artigo, nós indicamos o e-book do Autismo em Dia, que traz uma série de atividades e brincadeiras super divertidas e didáticas!
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Agora você já sabe como ser um agente transformador e aplicar interessantes atividades para crianças autistas! Compartilhe esse texto com outras pessoas, para que mais gente possa perder o medo de lidar com crianças que tenham sensibilidades especiais. Assim, em casa e na sociedade, teremos crianças autistas muito mais felizes.
Colaborou com esse artigo:
Dra. Fabrícia Signorelli Galeti
Psiquiatra – CRM 113405-SP
Referências bibliográficas e a data de acesso:
1. Neuro Saber – 26/04/2020
2. Canal Unimed Fortaleza – 25/04/2020
3. Curso de Babá – 26/04/2020
4. Muito mais do que uma peça: um documentário Lego (Kief Davidson e Daniel Junge, 2015) – 22/04/2020
5. Kids Connect – 24/04/2020
6. Waterford – 26/04/2020