Como saber se meu filho é autista? 4 coisas que os pais devem aprender
Se você é pai, mãe ou passa parte do seu tempo cuidando de crianças, deve sentir uma preocupação diária em relação a temas que envolvem o desenvolvimento infantil. Um nascimento perfeitamente saudável é apenas o primeiro desafio vencido pelos pais. Quando uma criança demonstra dificuldades de comunicação, essas preocupações aumentam, e naturalmente surge uma ansiedade sobre problemas “invisíveis” que podem acontecer, mesmo com toda observação e cuidado dedicados. Um dos mais comentados nos últimos anos é o Transtorno do Espectro Autista (TEA), ou simplesmente Autismo. Nele, as crianças apresentam atraso ou não desenvolvem habilidades esperadas para a idade. Por isso, se você está se perguntando “como saber se meu filho é autista?”, nós vamos te dar várias dicas de sinais para ficar de olho.1,2,3
1 – Conheça os primeiros sinais do autismo
Quando uma criança nasce com autismo, aparentemente não é possível diferenciar ela de qualquer outra pessoa. E esta, talvez, seja a principal dificuldade na hora de os pais perceberem alguma coisa. Afinal, parentes mais próximos, numa tentativa de negação da possibilidade de saber que há um filho autista, podem dizer coisas como “é só uma fase”, “é o jeitinho dele”. Entre outras afirmações que vão, naturalmente, atrasando um eventual diagnóstico.
O Autismo se manifesta bem cedo, por volta do sexto mês até 1 ano de idade, e se confunde com características de personalidade. Por isso, se seu filho ou filha apresentam alguma das características abaixo, não pense duas vezes antes de consultar um médico. Quanto mais cedo for dado o diagnóstico e começarem os tratamentos, maiores as chances de suavização dos sinais do transtorno.
De zero a seis meses
Nesta fase, o mundo todo é novo para uma criança. Qualquer estímulo ou ação externa podem fazê-la chorar, rir, tentar tocar, entre outras reações que nem sempre fazem sentido com o que está acontecendo. Numa criança autista, essas reações podem ser diferentes. Os bebês com TEA geralmente não sorriem com a mesma frequência, não olham muito nos olhos ou podem parecer não demonstrar outras formas de afeto.
Além disso, sabe aquelas manias de bebê de colocar os objetos ou as mãos na boca? Eles também podem não sentir essa necessidade, assim como podem não reagir aos sons que acontecem em volta, como por exemplo a voz dos pais, sons de animais, músicas, etc. O mesmo pode ser sentido com objetos e brinquedos que os pais colocam no berço ou na cama, que não atraem os olhares ou a curiosidade da criança autista.
De 6 meses até 1 ano
Esse é o período em que a criança começa a ensaiar seus primeiros passos, ações e palavras com certa autonomia, por isso os pais de crianças autistas podem perceber a falta de desenvolvimento nessas atividades. Por exemplo, os movimentos de engatinhar e se sentar não acontecem (ou demoram para acontecer) ou mesmo ocorrem de forma instável, sem apresentar segurança, evolução e firmeza. Para ficar de pé, a dificuldade é ainda maior. No entanto, atrasos no desenvolvimento da motricidade não são tão marcantes como atrasos em outros
domínios do desenvolvimento.
Outra característica facilmente confundível nesse período é quanto ao desenvolvimento da fala. As palavras ensinadas ao bebê que não é autista são apreendidas com alguma rapidez, porém a reprodução é ainda indefinida. No bebê autista as diferenças são sutis, mas você pode perceber que o aprendizado e compreensão de formas orais são expressadas apenas balbuciadas ou nem isso.
A criança autista de até 1 ano também pode não corresponder a estímulos relacionados à comunicação gestual, como acenar, apontar, olhar numa direção desejada ou fazer a famosa brincadeira do “cadê a pessoa que estava aqui? Achou!”. Paira sobre a criança um estado geral de indiferença.
Perceba, também, se a criança estranha quando vai no colo de uma pessoa diferente. Uma atitude normal para alguns casos é o bebê estranhar a presença e a proximidade da pessoa, mas com um autista a criança pode aceitar ir com qualquer um.
De 1 a 2 anos
Passado o primeiro ano de difícil aprendizado, a família do autista, que nesse período ainda não costuma saber, por diagnóstico, se seu filho é autista, ou mesmo a desconfiar, pode começar a perceber os primeiros sinais mais evidentes do transtorno.
Em vez de se tornar o ser falante, super movimentado e curioso que as crianças normalmente são nessa idade, o autista pode não apender a falar, ou tem dificuldade para formular frases com as palavras aprendidas, utilizando apenas de um vocabulário restrito a um total de palavras que dá pra contar nos dedos.
A criança autista nesse segundo ano de vida também pode não conseguir assimilar ideias básicas de como as coisas de casa funcionam. Por exemplo, o uso dos talheres para comer, ou o movimento de algum brinquedo com rodas. Isso está ligado à escassez de raciocínio lógico, que a criança comumente usa para somar duas ou mais ideias, como brinquedos que se encaixam, abrir e fechar.
Já os prejuízos de interação social, que são as características mais marcantes nos TEA ficam mais evidentes quando comparados com outras crianças da mesma idade. A criança apresenta alterações no interesse em brincar, conversar ou qualquer forma de interação.
De 3 a 5 anos
Nessa idade, as grandes características do Autismo ficam mais evidentes e mais difíceis de administrar, afinal, é o período onde a criança não fica mais apenas sob o domínio dos pais ou avós. É o período em que começa a frequentar a creche ou a escola, e as primeiras habilidades cognitivas e sociais são postas à prova. Com certeza a entrada da criança autista nesses ambientes vai causar impactos que os pais devem ficar de olho.
O desempenho de aprendizado fica atrás quando comparados com crianças de desenvolvimento neurotípico, pois o aluno demora muito mais a dar resposta aos estímulos. Além disso, esta criança pode apresentar manias (estereotipias) das mais variadas e causar estranheza nas pessoas que com convivem – algumas das mais comuns são o balançar do tronco para frente e para trás ou tiques com as mãos.
Além do ambiente escolar, qualquer lugar com muita gente, sons e movimento pode deixar a criança irritada e pré-disposta a protagonizar cenas de muita fúria ou desespero.
Mais do que nunca, a partir desta fase é muito importante a atenção e paciência dos pais, avós, professores e cuidadores. Além disso, é essencial procurar médicos, psicólogos e terapeutas para receber corretamente o diagnóstico e começar o quanto antes, já no primeiro ano, o tratamento – contínuo, já que o TEA não tem cura.
2 – Saiba diferenciar o Autismo da timidez, da hiperatividade e outros distúrbios
É muito comum que a família, assim como a sociedade, tente minimizar a ideia de que o filho pode ter nascido autista. São poucas as pessoas que, sem ironia ou maldade dirão, ao primeiro sinal, que uma criança deve ser levada para análise clínica.
Claro, é muito importante considerar todas as possibilidades: a timidez, o transtorno de déficit de atenção e hiperatividade e, sem dúvida, o autismo. Mas, como saber se seu filho é autista? É possível diferenciar cada uma dessas coisas?
Autismo e TDAH 4
O TDAH, ou Transtorno de Déficit de Atenção e Hiperatividade, como o próprio nome já diz, é um transtorno ligado à dificuldade de a pessoa reter atenção e apresentar uma inquietação anormal. Isto é diferente do Autismo, que é uma disfunção, principalmente, de comunicação e interação social.
O TDAH é um problema 6 vezes mais frequente do que o autismo, por isso é comum que esta seja a primeira ideia que os pais pensem quando seu filho ou filha parecem desligados das situações ou muito mais interessados em elementos que deveriam ser secundários à sua volta – como a obsessão por um único assunto ou a preferência por manusear um objeto em vez de conversar.
Quando há desconfiança sobre algum desses problemas, é mais importante ir atrás de um diagnóstico que confirme ou elimine a possibilidade do Autismo. Afinal, no Autismo o diagnóstico precoce é muito mais importante do que no TDAH, já que é mais grave e causa restrições maiores às atividades infantis.
Os dois diagnósticos são somativos, ou seja, podem ocorrer ao mesmo tempo. Poder ser que o médico entenda que a criança tem tanto o Autismo quanto TDAH.
Autismo e timidez 5,6
No Autismo, a inibição de uma criança pode ser traduzida erroneamente como timidez. Porém, mesmo uma criança que é tímida faz alguns avanços. A timidez é muito relacionada com acontecimentos, como traumas, falta de incentivo ou um ambiente com grandes contrastes. E, geralmente, uma pessoa tímida possui algum lugar ou situação em que se sente confortável para se expressar. Além disso, os outros prejuízos como interesses restritos e estereotipados e inflexibilidade a mudanças de rotina não estão presentes.
Já no Autismo, os estímulos em volta da criança não fazem tanta diferença, o comportamento vai sempre ser introspectivo, demonstrando pouca habilidade social.
Em meninas, onde a incidência do diagnóstico de Autismo é muito mais baixo, mesmo a timidez é vista com normalidade. Isso acontece por conta de uma expectativa social de que meninas sejam mais discretas. Mas, pai e mãe, desconfie de todo sinal anormal na sua criança.
3 – Entenda que o Autismo tem graus
Mas como saber qual é o grau do seu filho autista? Bem, após o diagnóstico, que raramente passa por apenas um médico – psicólogos, neurologistas e fonoaudiólogos passam por esse processo – diversos testes e análises devem encaixar a criança num dos três graus de Transtorno do Espectro Autista. Sendo o primeiro grau o mais leve, e o terceiro o mais comprometedor.
Autismo nível 1 (necessita suporte) 7
O autismo leve (anteriormente conhecido como Síndrome de Asperger), é o mais controlável a adaptável. Mas não se engane, é o mais difícil de perceber. A criança faz tudo que as outras, que não nasceram com o transtorno, fazem. Porém, com certo atraso.
Abaixo, as principais características do autismo leve
- Não aceita regras;
- Conversa pouco;
- Repete os gestos;
- Linguagem mecânica, ou seja, alteração da entonação da fala
- Dificuldade de alterar algo em sua rotina.
Entre outras citadas anteriormente.
Autismo nível 2 (necessita de suporte substancial) 8
O autista de nível 2 de comprometimento, ou moderado, tem uma necessidade muito maior de manter um adulto por perto. Essa é grande questão que o separa do primeiro grau, ou seja, o quanto esta criança depende de ajuda no cotidiano.
Além das características presentes no primeiro grau, estas são outras formas de comportamento do autista desse nível:
- Respostas que não correspondem ao que foi perguntado;
- Alto nível de estresse;
- Q. I. abaixo de 70;
- Dificuldade de entender as pessoas ou se fazerem entender;
- No processo de aprendizado, necessitam de conteúdos e formas diferenciadas, adaptadas.
Nível 3 (necessita de suporte muito substancial) 9
Também chamado de autismo severo, este é o nível de total dependência da criança do intermédio de um adulto. O autista severo vai precisar de muito mais tempo e intensidade nos tratamentos, pois as atitudes da criança podem ficar incontroláveis. Pode ocorrer um desligamento tão grande do indivíduo com os conceitos lógicos que não é incomum a família passar por situações constrangedoras.
Durante as frequentes crises nervosas, a criança pode ficar agressiva, inclusive, consigo mesma, numa atitude de autoflagelo. Esse comportamento pode também ser confundido com esquizofrenia, por isso o diagnóstico precoce, assim como o tratamento, são de primeira necessidade.
Ir ao banheiro, comer ou tomar banho são o tipo tarefa cotidiana que o autista severo também pode não saber realizar sozinho. É necessária a intervenção educacional em todos os aspectos.
4 – Tire de vista os mitos sobre o Autismo
Não é fácil para a família saber que o filho é autista, afinal, tudo muda na vida da criança, dos pais e dos irmãos. Por isso, é importante não focar em ideias pré-concebidas que são fortemente passadas entre as pessoas que ainda não têm conhecimento mínimo do que é o autismo.
O autista não é um gênio
Muito influenciada pela forma como são representadas nas artes como literatura, TV e cinema, a imagem do autista que é um super matemático ou um músico que aprendeu tudo sozinho não condiz com a realidade da maioria das pessoas com TEA. Assim como qualquer coisa acima da média, eles são exceção na sociedade. Pesquisas apontam que os savants, como são chamados, representam apenas 10% do total de autistas leves (de grau 1). Portanto, não é verdade que o autista é mais inteligente que as outras pessoas. 10
O autismo não é doença
Ao menos, se considerarmos o risco de vida dos problemas que podem carregar o nome de “doença”. Se bem tratado, o autista pode levar uma vida quase normal e, inclusive, graus mais altos podem ser revertidos para os mais baixos.11
É totalmente possível se comunicar com um autista
É possível conversar e passar mensagens com eles, você só precisa entender com qual tipo de comunicação aquela criança tem mais afinidade. Em geral, eles são bastante visuais, e desenhos, vídeos e brincadeiras diferenciadas caem muito bem.12
Agora, você tem mais ferramentas para saber seu filho ou filha pode ser ou não autista. Não se esqueça de consultar um médico e, após o laudo, manter o tratamento, em casa, nas clínicas e na escola, regularmente. Compartilhe esse artigo para contribuir com a conscientização do autismo.
Para saber mais sobre o autismo, indicamos também uma visita ao Autismo em Dia, que traz muitas discussões sobre o tema e muitas histórias reais de autistas, pais, mães, irmãos e cuidadores!
Colaborou com esse artigo:
Dra. Fabrícia Signorelli Galeti
Psiquiatra – CRM 1113405-SP
Referências bibliográficas e a data de acesso:
1. Canal Marcos Mion – 11/02/2020
2. TV Cultura – 10/02/2020
3. CLIA Psicologia – 11/02/2020
4. Neuro Saber – 12/02/2020
5. Super Spectro – 12/02/2020
6. Cristiane Romano – 12/02/2020
7. Neuro Saber – 12/02/2020
8. Canal Mayra Gaiato – 11/02/2020
9. BBC Brasil – 12/02/2020
10. Super Interessante – 12/02/2020
11. Entendendo o Autismo – 12/02/2020
12. Saúde Abril – 12/02/2020