Pré-natal psicológico: entenda as emoções da gestação

A gravidez é um período de intensas transformações para a mulher, não só físicas, mas também emocionais e psicológicas. Desta forma, surge o pré-natal psicológico, um novo modelo de assistência perinatal que tem o objetivo de complementar os exames e cuidados da assistência pré-natal tradicional.

Afinal, ser mãe é algo que se aprende e, mesmo para as mulheres que já têm filhos, a chegada de um novo bebê pode ser uma experiência completamente diferente. Por isso, é de imensa importância cuidar dos aspectos emocionais maternos a fim de que eventuais problemas, uma vez identificados, possam ser tratados e amenizados.

Pré-natal psicológico: os sentimentos durante a gravidez ¹

A partir do momento em que a mulher se descobre grávida iniciam-se transformações no corpo, na rotina, na casa e na vida pessoal e profissional, além de uma série de sentimentos e emoções que toma conta dela e de seus pensamentos, e que nem sempre são fáceis de lidar. ²

Alegria, satisfação, medo, insegurança, ansiedade, tudo ao mesmo tempo e com muita intensidade.

Essa mistura de sentimentos somada às expectativas e incertezas a respeito do filho, e também da gestação em si, podem gerar uma ansiedade pouco saudável para a mulher – independentemente de ser a primeira ou a décima gravidez, afinal cada gestação é única.

Além disso, cada fase da gravidez traz consigo uma nova gama de sentimentos e emoções. E, como nenhuma mulher é igual à outra, cada qual reage de um jeito diferente, algo que se relaciona também ao ambiente, experiências, relacionamento, alimentação e inclusive ao estilo de vida de cada uma. Porém, de modo geral, a maioria delas passa pelas mesmas mudanças emocionais.

Para entender melhor como funcionam as emoções durante a gravidez, convidamos a psicóloga materno-infantil Juliana Canavese CRP (08/14194) para falar sobre esse tema em cada uma das etapa.

Primeiro trimestre

Biologicamente, é no primeiro trimestre que as alterações hormonais são sentidas com maior intensidade. É, portanto, quando as taxas de estrogênio e progesterona se elevam bruscamente e a mulher começa a lidar com a ideia de ter um bebê se desenvolvendo em seu ventre.

Segundo Juliana, nos três primeiros meses é comum que a mulher senta uma mistura de medo e preocupação muito grande, quase sempre somada à felicidade pela gravidez. Essa mistura é fruto das alterações hormonais próprias da gravidez, que fazem também com que muitas mulheres se sintam irritadas em função do cansaço, do sono e dos enjoos igualmente comuns à essa fase.

“Até que a mulher entenda que está tudo bem, que ela tem condições de continuar gestando essa vida, é um momento de bastante vulnerabilidade emocional”, complementa.

Segundo trimestre

Sobre o segundo trimestre, Juliana aponta como sendo mais tranquilo emocionalmente para a maioria das mulheres. “É nele que a mulher começa a perceber os movimentos do bebê e passa a se sentir de fato grávida”, comenta.

Como o período de adaptação do próprio corpo para a gestação já passou, essa fase apresenta maior estabilidade nas emoções como um todo, o que favorece a conexão da mãe com o bebê. “As mulheres sentem um alívio de finalmente sentirem o bebê se mover. Contudo, isso também pode causar certa ansiedade caso o bebê não se mexa tanto. De toda forma, a mulher sente essa fase como a mais agradável da gravidez”, complementa Juliana.

Terceiro trimestre

Juliana explica que normalmente o terceiro trimestre é a fase em que a ansiedade fica muito intensa, principalmente, devido à proximidade do parto. “É o momento em que vem também o medo de como vai ser o parto, se a mulher vai dar conta dos primeiros cuidados com o bebê, de como será a amamentação dentre outros tipos de inseguranças […] são preocupações mais concretas, de modo geral”.

Outro item destacado por Juliana é a ambivalência afetiva. Trata-se de um aspecto que faz com que as mulheres se sintam felizes, realizadas e, ao mesmo tempo, experimentem sentimentos contrários, como a tristeza e o medo. Todos esses sentimentos são naturais e, de certa forma, a gestação inteira terá altas e baixas de humor.

psicológico na gravidez
Fonte: Envato – Foto de valuavitaly

Se “tudo” é normal, por que fazer um acompanhamento pré-natal psicológico?

Segundo Juliana, “a gestação é um momento de desenvolvimento da mulher de muita mudança e ainda muito imprevisível […] por mais que seja feito um bom pré-natal, que a mulher tenha todo um suporte familiar etc., ela lida com coisas que não é capaz de controlar, por isso a  importância de um apoio emocional profissional. É por meio do pré-natal psicológico que a mulher aprende a lidar com os sentimentos, questionamentos ou mesmo a culpa por se sentir triste”.

Assim, durante o pré-natal psicológico a mulher pode se preparar emocionalmente para a chegada do filho. Isso faz com que ela se sinta mais segura para ocupar esse novo papel social com tranquilidade. E, claro, sem descuidar de si e de suas necessidades individuais. São nove meses para que a mulher aprenda a se ver no papel de mãe, podendo, inclusive, prevenir adoecimentos emocionais, como a depressão pós-parto, por exemplo. ²

Saúde mental e emocional no puerpério ³

O período pós-parto, também chamado de puerpério, é cercado de novidades e também de emoções, mas, ao mesmo tempo, pode ser um período em que surgem muitos medos e desafios. Além dos cuidados dedicados ao bebê que acaba de nascer, essa é igualmente uma fase em que a mulher começa a se reencontrar com seu próprio corpo.

A duração do puerpério pode variar de mulher para mulher. Entretanto, mais do que a recuperação do corpo e da aprendizagem de como cuidar do bebê, esse período é especial no que se refere ao emocional da mulher.

Do ponto de vista psicológico, explica Juliana, “depois do nascimento do bebê temos algo como um ‘quarto trimestre’, é o que chamamos de puerpério. Período de adaptação às mudanças do pós-parto que envolvem inclusive questões hormonais, como o aumento da ocitocina, por exemplo […] Depois de alguns dias, devido a essas mudanças hormonais, pode acontecer da mulher sentir uma tristeza, uma vontade incontrolável de chorar, é o chamado baby blues”.

Assim como ocorre no pré-natal, durante o período pós-parto, a maneira como a mulher enxerga as experiências se relaciona diretamente às expectativas, crenças, informações, atenção, cuidado, compreensão e ao apoio que recebeu desde a gestação. Bem como ao ambiente, experiências, relacionamento, alimentação e ao estilo de vida de cada uma. Essa soma de fatores permite que a mulher esteja mais consciente e ativa neste processo.

Mudanças que mais afetam a mulher no pós-parto 4

A consciência da mulher acerca de suas necessidades é muito importante no puerpério. Pois, é nesse período os hormônios prolactina e ocitocina fazem com que o mundo da mulher, agora mãe, seja todo direcionado para o bebê. Ou seja, relativizando ou ignorando outros estímulos que não estejam relacionados ao filho.

Assim, pode ocorrer a perda do interesse sexual e por outras atividades que antes eram importantes. Afinal, a vida nesse momento estará voltada aos pedidos de carinho, à amamentação e aos cuidados com o bebê.

Além disso, temos as mudanças físicas decorrentes do desgaste nutricional do qual a mulher se recupera pouco a pouco, que incluem a falta de ferro e, em alguns casos, de iodo. Também podem ser observadas alterações na atividade intestinal, em função da oscilação nos níveis de serotonina.

Mudanças que mais afetam a mulher e suas emoções no pós-parto:

  • Alterações de humor
  • Falta de sono
  • Preocupação
  • Desconforto
  • Dificuldade para amamentar (rachaduras nos mamilos e dor)

Tudo isso pode provocar insegurança, frustração, irritabilidade, falta de concentração, angústia, necessidade de chorar, estresse, hipersensibilidade, exaustão. E, às vezes, em casos mais graves, levar a uma depressão pós-parto.

Assim, o acompanhamento profissional é fundamental, pois a depressão pós-parto está associada à má nutrição e saúde do bebê. Podendo interferir na amamentação, na construção do vínculo entre a mãe e a filho, nos cuidados com o bebê e no relacionamento com o parceiro e a família. 4

puerpério
Fonte: Envato – Foto de s_kawee

A importância da rede de apoio

O puerpério pode ser bastante desafiador mesmo para as mulheres que já passaram por essa experiência. Por isso, nesse período, todas as mulheres podem se beneficiar de uma rede formada por familiares, amigos e profissionais. Pois eles podem oferecer acolhimento e apoio vindo a atender às necessidades específicas de cada mulher.

Mas como o parceiro, familiar ou amigo pode auxiliar? Esse suporte pode vir de diversas formas, como veremos a seguir.

Como ajudar a mulher em puerpério

  • Oferecer cuidados com a casa e com as questões práticas do dia a dia
  • Ficar um tempo com o bebê para que a mulher possa ter um tempo para si
  • Respeitar as escolhas da mãe
  • Oferecer uma escuta sensível e empática

Outra opção são os grupos de mulheres no pós-parto (presenciais ou virtuais), que podem ser muito valiosos nesse período.

É importante frisar que a mulher deve estar atenta a si e que pessoas próximas também estejam atentas ao seu estado emocional. Isso é fundamental para encaminhamento profissional especializados quando necessário. Você mulher, mãe, ou futura mãe, cuide-se para melhor cuidar do seu bebê. Você parceiro, familiar, amigo aprenda a cuidar da mulher-mãe, respeitar seus sentimentos e a estar atento as suas emoções, zelando pela saúde mental da mulher e também pelo bem-estar do bebê.

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Colaboraram com esse artigo:

Dra. Adriana Bittencourt Campaner
Ginecologista –  CRM-SP 75.482

Juliana Canavese
Psicóloga materno-infantil – CRP 08/14194


Referências bibliográficas e datas de acesso

1 – Bebê Abril – 05/04/2020

2 – Manual da mamãe – 05/04/2020

3 – A Mente é Maravilhosa – 08/04/2020

4 – Meu parto – 08/04/2020